Medici Assessoria

Fabio Medici • 13 de setembro de 2022

Treinamento esportivo para criança, por que é tão importante controlar o volume e a intensidade


“O treinamento infantil e juvenil não é um treinamento de adulto reduzido, uma vez que crianças e jovens ainda encontram-se em crescimento e desenvolvimento de uma série de alterações físicas, psíquicas, sociais muito significativas”. (WEINECK J. 1999).


Esta importante afirmação feita por Jürgen Weineck, alemão e um dos maiores especialistas mundiais no treinamento esportivo, apresenta uma visão importante a muito tempo discutida a respeito dos cuidados e atenção que se deve ter com a prescrição de treinamento para crianças. O treinamento físico para crianças deve priorizar grande atenção ao seu desenvolvimento motor e psicossocial, tendo claro que o seu possível desenvolvimento no esporte de rendimento é um processo sistemático e a longo prazo.


Ao longo de todo o processo de crescimento, desenvolvimento que leva a fase adulta e posteriormente ao envelhecimento, são descritas várias fases que caracterizam as mudanças psicofísicas, mudanças de comportamento pelo desenvolvimento do sistema nervoso central e pelas interações com o meio em que a pessoa vive e, mudanças fisiológicas devido a processos de desenvolvimento maturacional.


Mudanças fisiológicas como desenvolvimento dos sistemas imunológico, endócrino e genital, em diferentes momentos da infância / adolescência fazem com que demais estruturas corporais como ossos e músculos (por exemplo) consigam se desenvolver de forma adequada.


A maturação genital / endócrina com aumento dos hormônios sexuais, testosterona (meninos) e estrógenos (meninas) tem seu pico com o chamado desenvolvimento puberal, que ocorre no início da adolescência, em média com 13 anos de idade.


Importantes pontos ai são que entre meninos e meninas o ápice de desenvolvimento muscular tem fases diferentes (idade cronológica) devido a menor secreção hormonal nas meninas comparado aos meninos. E que todo desenvolvimento maturacional não necessariamente segue calendários definidos cronológicos (tempo), é sempre muito importante avaliações individuais e, que podem ser demonstradas de maneira mais simples de observação pelo engrossamento de voz (meninos), aumento de pelo no corpo principalmente ne região pubiana, desenvolvimento das mamas (meninas) entre outros fatores.


 

Qual a relação da puberdade com o desempenho físico / esportivo?

 

Tanto em meninos como em meninas a capacidade anaeróbia é significativamente inferior das crianças em relação aos adolescentes e adultos, isso está ligada a menores estoques de creatina-fosfato (CP) e glicogênio muscular, menor atividade das enzimas fosforilase, fosfofrutoquinase (PFK) e lactato-desidrogenase (LDH), que são importantes enzimas que atuam no metabolismo energético, além de níveis mais baixos de testosterona, que marca menor nível de desenvolvimento muscular e ósseo.

 

Ponto importante: mulheres também apresentam níveis de testosterona endógena na corrente sanguínea, que são importantes para uma série de resposta biológica e que explicam possíveis respostas com o treinamento. Porem tanto a quantidade, quanto a ação deste hormônio quando comparado aos homens é consideravelmente menor, o que explica muito das diferenças físicas de homens e mulheres com mesmo nível de treinamento.

 

Scheett e colaboradores (2002) mostraram importante redução nos níveis do hormônio IGF-1 em indivíduos pré púberes (9 a 11 anos), submetidos a treinamento aeróbio (90 minutos por 5 vezes por semana) por cinco semanas, segundo o que foi demonstrado pelas analises clinicas realizadas pelo autores isso ocorreu devido ao aumento de citocinas pró-inflamatórias que geram a supressão da resposta hormonal GH/IGF-1.

 

Pontos importantes: O hormônio IGF-1 é um importante hormônio com ações sobre o metabolismo, desenvolvimento muscular (hipertrofia) e durante o período maturacional crescimento e desenvolvimento ósseo. A secreção do hormônio IGF-1 ocorre estimulada pela produção do hormônio GH.
Citocinas pró-inflamatórias tem seu papel e função fisiológica porem quando se apresentam em níveis elevados por muito tempo tendem a promover prejuízos metabólicos, musculares e, em se tratando de desenvolvimento puberal, ósseo, o que é amplamente abordado em diversos trabalhos científicos a respeito do maior risco de lesão em crianças submetidas a altas cargas (volume e intensidade) de treinamento.

 

Assim como em qualquer fase da vida o objetivo de um trabalho com treinamento esportivo em crianças é obter o desempenho ideal de acordo com a sua idade e capacidades físicas e psicossociais. É fundamental conhecer as diversas respostas do organismo para que se possa aplicar o treinamento físico de forma adequada nesta que é uma importante fase de desenvolvimento, a infância, para que se evite possíveis lesões, ou até mesmo o abandono do esporte por frustações de um treinamento mal planejado.

 

Para quem quiser saber mais:

 

Cooper DM. Exercise, growth, and the GH-IGF-I axis in children and adolescents. Curr Opin Endocrinol Diab 1999;6:106-11

 

Lima F, Falco V, Baima J, Carazzato JG, Pereira RMR. Effect of impact load and active load on bone metabolism and body composition of adolescent athletes. Med Sci Sports Exerc 2001;33:1318-23

 

Pettersson U, Nordström P, Alfredson H, Henriksson-Larsén K, Lorentzon R. Effect of high impact activity on bone mass and size in adolescent female: a comparative study between two different types of sports. Calcif Tissue Int 2000;67:207-14.

 

Scheett TP, et al. The effect of endurance-type exercise training on growth mediators and inflammatory cytokines in pre-pubertal and early pubertal males. Pediatr Res 2002;52:491-7.


Fábio Medici Lorenzeti,

Diretor e treinador na Medici Assessoria Esportiva.

Mestre em Ciências (EEFE-USP, Lab. de nutrição e metabolismo aplicado a atividade motora)
Autor dos livros: Nutrição e Suplementação Esportiva: aspectos metabólicos, fitoterápicos e da nutrigenômica (2015, Phorte); Exercício, Emagrecimento e Intensidade de Treinamento: aspectos fisiológicos e metodológicos (2013/2ª ed., Phorte); Biologia e Bioquímica: Bases aplicadas às ciências da saúde (2011, Phorte). Além de outros trabalhos científicos nacionais e internacionais.


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