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Suplementação alimentar x doping: por que é tão importante estar atento ao que se consome

Por definição suplementos nutricionais são produtos alimentícios acrescidos à dieta e que contenham na sua composição pelo menos um dos seguintes ingredientes: vitaminas, minerais, ervas ou plantas, aminoácidos, extrato ou combinação de qualquer um desses ingredientes, sendo inseridos juntamente a dieta para equilibrar possíveis carências nutricionais.
A suplementação nutricional não necessariamente é somente para atletas, existem diversos estudos que avaliam o efeito da suplementação nutricional para suprir as mais diversas condições clinicas. Porem a suplementação nutricional ganhou e apresenta grande destaque através da prática de atividade física e esportiva, devido as grandes demandas metabólicas e nutricionais.
O doping por sua vez é definido pela Agencia Mundial Antidoping (WADA) como sendo uma violação nas regras antidoping, sendo apresentado através de amostras coletadas do atleta substâncias proibidas, seus metabólitos ou marcadores no sangue ou na urina. Com isso se apresenta o chamado Resultado Analítico Adverso, que pode ser por uso deliberado ou acidental de determinada droga / fármaco proibido. E ai que está o grande ponto em questão.
Relatórios estatísticos da WADA dos anos 2013-2017 chegam a demonstram que até 19% dos casos de Resultado Analítico Adverso de atletas não resultou em sanções ao atleta devido a comprovação dentre outros fatores a suplementos alimentares contaminados.
Estudo apresentado por Olivier de Hon e Bart Coumans no British Journal of Sports Medicine (2007) relata que o tênis desempenhou um papel particular nesse debate por causa da complexidade dos casos de Bohdan Ulihrach e Greg Rusedski, que testaram positivo para os pró-hormônios nandrolona ou nandrolona em 2002 e 2003, respectivamente. Ainda segundo os autores Em junho de 2007, Guillermo Coria processou uma empresa de suplementos norte americana pelos danos financeiros que sofreu durante sua suspensão de 2 anos após também testar positivo para nandrolona em 2001.
Estudo publicado por Hans Geyer e colaboradores em 2008 apresenta a contaminação de uma série de produtos, dentre eles empresa que fazia a contaminação da creatina em que continha sete diferentes esteroides anabólicos androgênicos proibidos (pró-hormônios) e testosterona não declarados no rótulo.

Journal of Mass Spectrometry, Volume: 43, Issue: 7, Pages: 892-902, First published: 19 June 2008, DOI: (10.1002/jms.1452)
Ponto importante: A creatina é uma amina formada pela junção de 3 aminoácidos (Arginina, Glicina e Metionina), sendo que nosso fígado e rins formam diariamente cerca de 1 grama de creatina devido a sua importância fisiológica. Como suplemento alimentar é um dos suplementos mais estudados, sendo demonstrada grande eficácia (em esportes de força e potência) e segurança. O ponto chave na discussão é a adulteração de suplementos por empresas a fim de leva vantagem comercial, causando grandes danos à saúde do consumidor.
Como é feita a análise para detecção de contaminantes em suplementos alimentares?
A análise para detecção de produtos contaminados assim como de material biológico pode ser feita através de técnicas denominadas de cromatografia gasosa-espectrometria de massa (GC-MS) ou cromatografia líquida-espectrometria de massa (LC-MS).
Os primeiros casos de contaminação de suplementos foi apresentado nos anos de 2000 através da norandrosterona em produtos como tribulus terrestris (Geyer, H. et al., 2000)
Segundos estimativas da FDA (Federal Drug Administration, órgão governamental dos EUA que faz o controle dos alimentos) desde 2007, 1.050 suplementos alimentares foram contaminados e estimasse que 23.000 pessoas procuraram os serviços de saúde devido a problemas de saúde.
Afim de se evitar o risco de contaminação acidental países como Alemanha e Holanda fornecem continuamente uma lista de produtos e marcas que os atletas podem consultar para evitar riscos de contaminação acidental.
No Brasil A fabricação e comercialização de suplementos deve seguir a Instrução Normativa n° 76 de 05 de novembro de 2020 (IN nº 76/2020) assim como a RDC nº 360/2003 e RDC n° 243/2018 (RDC, Resolução da Diretoria Colegiada) que tratam dos constituintes, rotulagem e requisitos sanitários dos suplementos alimentares.
Mesmo com todas as normativas e análises realizadas esporadicamente se noticiam casos de fraude e adulteração de suplementos.
Por isso é muito importante sempre verificar a procedência da marca ou produto utilizado, além de que a prescrição de suplementos deve ser feita sempre por um nutricionista, em que a escolha e uso dos suplementos segue sempre 3 regras básicas:
✅ Suplementar APENAS o que não se consegue obter pela alimentação;
✅ Suplementar APENAS se houver necessidade, dadas as características do treinamento e da modalidade esportiva;
✅ Suplementar APENAS se houver comprovada ação ergogênica e comprovada segurança.
Para quem quiser saber mais:
Abbott A. Dutch set the pace in bid to clean up diet supplements. Nature. 2004.
de Hon O, Coumans B. The continuing story of nutritional supplements and doping infractions. Br J Sports Med. 2007
Geyer H., et. al.. Positive Doping Cases with Norandrosterone after Application of Contaminated Nutritional Supplements. Dtsch. Z. Sportmed. 2000.
Geyer H. et. al. Nutritional supplements cross-contaminated and faked with doping substances. Journal of Mass Spectrometry. 2008
World Anti-Doping Agency (WADA) Anti-Doping Rule Violations (ADRVs) Report 2014. https://www.wada-ama.org/sites/default/files/resources/files/wada-2014-adrv-report-en_0.pdf
World Anti-Doping Agency (WADA) Anti-Doping Rule Violations (ADRVs) Report 2015. https://www.wada-ama.org/sites/default/files/resources/files/2015_adrvs_report_web_release_0.pdf
World Anti-Doping Agency (WADA) Anti-Doping Rule Violations (ADRVs) Report 2016. https://www.wada-ama.org/sites/default/files/resources/files/2016_adrvs_report_web_release_april_2018_0.pdf
World Anti-Doping Agency (WADA) Anti-Doping Rule Violations (ADRVs) Report 2017 https://www.wada-ama.org/en/resources/general-anti-doping-information/anti-doping-rule-violations-adrvs-report

Fábio Medici Lorenzeti,
Diretor e treinador na Medici Assessoria Esportiva.
Mestre em Ciências (EEFE-USP, Lab. de nutrição e metabolismo aplicado a atividade motora)
Autor dos livros: Nutrição e Suplementação Esportiva: aspectos metabólicos, fitoterápicos e da nutrigenômica (2015, Phorte); Exercício, Emagrecimento e Intensidade de Treinamento: aspectos fisiológicos e metodológicos (2013/2ª ed., Phorte); Biologia e Bioquímica: Bases aplicadas às ciências da saúde (2011, Phorte). Além de outros trabalhos científicos nacionais e internacionais.
